Nós

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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dia de internamento - 12 de Junho de 2008




No dia 12 de Junho dirigimo-nos ao Piso 5 do IPO Porto.
Fomos acolhidos por uma enfermeira que fez a admissão e depois explicado que ainda não havia cama vaga pelo que teríamos de esperar. O que aconteceu até cerca das 16 horas.
Neste espaço de tempo eu soubera que havia um Lar de doentes com Lúpus e já tinha ido para lá, sentindo-me muito bem acolhida pela que agora é uma amiga do coração, Belém Bastos. Também havia possibilidade de ficar em casa de uma amiga em Gaia mas seria mais longe e o apartamento estava praticamente vazio por não ser habitado. Mas o lar fica a menos de 5 minutos de carro, o que se tornou uma bênção.
Uma vez mais, o meu filho mais novo estaria presente – chegava no dia seguinte. Não há palavras para expressar o que o Diogo tem sido para mim e para o Jorge nestes dois anos e meio. Uma presença constante, afável, com um forte sentido de humor e de apoio. Não há palavras!
À hora de almoço desse dia 12, veio uma sopa para o Jorge e eu tinha levado fruta e barritas pois (ainda) cumpria o meu plano alimentar.
Ao longo das horas fomos conhecendo doentes que já lá estavam e outros que estavam também para ser internados. Destes, fica-me a imagem de um doente transferido de um hospital do interior com uma leucemia. 23 anos e casado há pouco tempo. Mãe e esposa devastadas. E eu senti-me uma privilegiada. O meu marido não tinha cancro.
Sempre tive horror de doenças oncológicas. Um medo irracional. Que evitava a todo o custo saber, quanto mais conviver. Quando uma leucemia atingiu uma querida amiga em 1988 eu pensei que enlouquecia. Foi simplesmente horrível.
De modo que antes de vir, em Ponta Delgada a minha psicóloga estabelecera comigo estratégias para lidar com a situação. Uma delas, sair, ir ao cinema, distrair-me. O que me levou a perguntar-lhe: “O meu árido vai estar internado e eu vou ao cinema?” “Vai! Vai sim. Porque só assim consegue chegar perto dele bem-disposta e com força para lhe dar força!” Ó tradição judaico cristão que temos de nos flagelar! Mas, como veremos, seguir as orientações da Doutora Célia Carvalho. Estava das 11 da manhã Às 9 da noite com o Jorge mas antes de ir para casa dava sempre um passeio – perdi-me muitas vezes, com o Diogo e, como com ele, não se consegue estar sem rir muito tempo, dava por mim às gargalhadas. Mas a isto voltarei nos próximos dias. Isto para dizer que tive de cuidar da minha saúde mental e com a ajuda distante mas presença desta grande profissional, fui andando.
Como referia, nesse dia conheci alguém que me marcaria para sempre: a Paulinha. De seu nome Paula, não adianto mais por respeito à família de quem não tenho autorização para me referir a ela. Foi aquele clique. Conversámos bastante e ao longo do tempo fomos estreitando laços. Depois da Alta do Jorge ela ficou lá; ía vê-la. Quando vínhamos dos Açores, tive oportunidade de a ver. Comunicávamos por telemóvel. Uma leucemia muito agressiva, ela que era dadora de sangue e de medula óssea. Lutou! Lutou tanto! E perdeu a batalha a 31 de Julho de 2009. Muita da minha força que ganhara com esta experiência foi-se embora com a partida dela. Foi avassalador para mim. Repousa em paz, amiga!
Neste espaço de tempo deu para ver que as condições físicas do serviço não eram as melhores. Mas as humanas sim, principalmente das enfermeiras e dos enfermeiros.
Finalmente o Jorge foi para a cama 11.
Com um sorriso afivelado nos lábios, deixei-o instalado, confortável, massajado nas pernas e nos pés (fazia-o diariamente porque ele tem muitas varizes e não queria que houvesse risco de feridas). E vim para casa – isto é o lar – quando me referir a casa é ao Lar de doentes com Lúpus que me refiro. Nessa noite ficaria sozinha. Complicado, muito complicado. Um misto de expectativa e ansiedade. Mas muita, muita esperança.

1 comentário:

  1. Estou a gostar de ler, Paula. E é claro, que reconheço muitas coisas - sentimentos, sensações, medos e esperanças.

    Beijinhos.

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