Nós

Nós

sábado, 19 de junho de 2010

Para casa! Graças a Deus! - 16 de Setembro de 2008

O Jorge deitou-se cedo e quando eu fui para a cama ele dormia profundamente. Fiquei tranquila com isso.

Ao acordar esta manhã reparei que ele estava muito prostrado. Foi então quando me disse que tinha tomado um Metamidol. Acontece que estes fármacos lhe fazem um efeito retardado de prostração.

Depois, ele estava tão nervoso com a consulta de hoje que acabei por ficar imensamente nervosa também.

Foi fazer as análises e deitou-se no sofá.

O tempo não passava.

Fomos para o IPO onde a consulta estava marcada. Atrasou-se. E o tempo continuava a não querer passar. Pela primeira vez foi-me muito difícil ver determinadas situações no IPO. Parecia eu, antes de enfrentar de perto a doença oncológica.

Finalmente entrámos. O Dr. Mariz estava sozinho. Hoje sem assistentes. Quando perguntou “Então como está?” E o Jorge disse “cheio de nervos” o médico respondeu “Não tem motivos. Está tudo muito bem. Os neutrófilos subiram espontaneamente e bem”. Que grande alívio!

Ontem já tínhamos empacotado as coisas para despachar de barco. Mas a dúvida de irmos era grande.

Aí o Jorge deu-me um daqueles apertos na mão que dizem tudo. Tudo de meses de luta. E eu pensei que fizera muito bem em não o pôr a dieta neutropénica nem o resguardar demais. Se a medula estava a funcionar para eritrócitos e plaquetas, iria trabalhar por si mesma. E acho que resultou.

Depois foi ir buscar medicação, marcar consulta. E ainda havia que ir colocar os caixotes na transportadora ou teríamos de adiar a ida para depois de amanhã. Como nunca antes, todos os lugares tinham filas de pessoas à nossa frente.

Aproveitei para dar a notícia. A umas por voz porque tinha outras coisas a dizer; a outras por sms. Quando dei por mim tinha 34 pessoas a quem comunicar. Foram aquelas pessoas de quem tenho o contacto e sempre mostraram interesse e ajudaram, por muito longe que tiveram. E pensei que sou uma afortunada por ter todas estas pessoas.

A primeira pessoa a avisar foi o Diogo que estava a passar a ferro. A segunda pessoa foi o Sandro. Os filhos primeiro!

Uma parte da tarde estive com a minha querida Belém. Tínhamos de ter este momentinho para nós. Vou ter imensas saudades mas como não há distâncias na amizade, estaremos sempre juntas.

O Jorge foi sozinho levar os caixotes que chegaram a tempo e ainda fez as malas e limpou o chão. A isso chama-se vontade, meu amor.

Encontrei a Cristina e o Zé Manuel. Ele será internado amanhã para transplante. Graças a Deus que melhorou para conseguir fazer. Graças a Deus que o Jorge está a recuperar. Graças a Deus pelos meus amigos, por tudo.

Estou ciente que começa outra caminhada que pode não ser necessariamente fácil. Mas é outro dia que desponta. Graças a Deus.

P.S. – 23h15m

Fomos jantar para comemorar e para já não cozinhar mais. Lá fui sugerindo o “Tromba Rija” e o Jorge fugindo. Na hora de sairmos disse que íamos lá. Uau! Só pensava que podia escolher de todas as sobremesas, comer uma colherinha de cada uma sem ter que escolher mesmo uma como num restaurante normal.

Pois é isso… A sobremesa vem no fim quando já não cabe mais nada. Mas ainda deu para uma colherinha de Pudim Abade de Priscos (pois claro!), 1 papo de anjo e uma colherinha de mousse de chocolate.

A simpatia dos funcionários é imensa. Já conhecia o restaurante de Lisboa, o qual prefiro a decoração do que este mas o serviço deste é muito bom. O de Lisboa também.

A única desvantagem foi uma menina “filha-bem” que entrou para o 10º ano e ficámos a saber durante o jantar toda a sua história e a da família. Pais, uma irmã e um irmão, ninguém nunca a mandou calar ou pelo menos disse que era de extrema má educação falar para todo o restaurante ouvir. Se alguém tentava falar a menina perguntava “Posso falar?” Como se ela tivesse feito outra coisa toda a noite... Em todas as mesas as pessoas entreolhavam-se. E o paizinho olhava para ela tão embevecido que parecia que ela tinha começado a falar, dito as primeiras palavras hoje. Cruzes, miúda, cala-te! Ou fala só para tua mesa.

Vindo para o carro, ali no Cais de Gaia pude olhar para as margens do Douro que eu tanto adoro. “Até breve” pensei. Mas esse breve já não será no Verão (teremos de vir em Novembro).

A caminho de casa viemos num passeio mais alargado para ajudar a digestão. Ouvindo a M80, minha companheira destes meses. Que bom, um sentimento de plenitude com a música que adoro e que nunca pensei ouvir ao lado da pessoa amada. Mas afinal Deus deu-me uma oportunidade com o Jorge… Valeu a pena. Agora está a aqui a garrafa da Água das Pedras e estou pronta a recomeçar a minha dieta.

Sem comentários:

Enviar um comentário