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sábado, 19 de junho de 2010

Momentos (ainda) de inquietação - 12 de Outubro de 2008

O Jorge não tem estado bem.

Cansado, sem apetite, desanimado.

Não sabemos se é algum efeito de algum medicamento, se é psicológico, uma reacção a tudo o que passou, se é deste calor anormal que tem feito ou se é simplesmente da doença.

Telefonou à médica dele que esteve a ver o processo e alterou uma medicação em xarope que ele tomava e que era intragável para o mesmo mas em cápsulas. Pelo menos não sente o sabor.

Tento fazer a comida que vejo que ele pode gostar mais, de acordo com o que ele me vai dizendo e, mais do que tudo, tenho de me impor para que se alimente. Não tem apetite, então tem de comer sem apetite, alimentos nutritivos, mas tem de comer.

Claro que agora já não estou em casa. Ainda na sexta-feira que foi o pior dia dele, eu tive de estar em sala de aula das 9 às 17. Mas tem de ser, é a minha vida.

Se fossemos, ricos, ou melhor, se vivesse num país diferente, poderia trabalhar a meio tempo. Mas não é o caso.

De modo que ainda lidamos com inquietação. Não é aguda. É assim uma sensação de que algo não está bem. Dizer “Não sei o que tenho”

Depois vêm os sonhos com anemias, uma grande diminuição de hemoglobina.

Sonhos de férias que não sabemos se acontecerão.

Fazer planos de semestres, determinar dias de aulas e ter um nó por não saber se podemos cumprir. Nunca ninguém sabe mas neste caso sinto mesmo uma certa angústia com planeamentos tão antecipados. Nós, que temos doenças crónicas, aprendemos a viver um dia de cada vez. Mas o nosso sistema laboral não o permite. E quando se é coordenador ainda temos de pensar mais nisto porque aconteça o que nos acontecer há os colegas e o curso que não podem parar.

É inquietante.

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