Nós

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

21 de Dezembro de 2010 – Boas notícias no solstício de Inverno


Já ontem o Jorge acordou muito ansioso, tendo começado logo a vomitar.
Depois demos umas voltinhas pelo NorteShopping e na Baixa. Estava muito frio e rapidamente viemos para o Lar.
Eu também estava apreensiva mas tentei não demonstrar. Ver o Jorge assim tão ansioso não é fácil porque ele sempre teve boa saúde mental ou pelo menos não era ansioso.
Foi fazer as análises ontem.
Hoje acordou-me em pânico. Já estava acordado há horas mas quando me acordou estava em pânico. Fui sentar-me na cama dele (são camas de solteiro) e comecei a respirar com ele e a tentar acalmá-lo. Ele foi capaz de verbalizar “Estou cheio de medo da consulta.”
Fomos para o Hospital em cima da hora da consulta e ele foi logo chamado.
Como sempre, o médico perguntou como ele está e quando ele verbalizou a ansiedade, o médico disse que não havia motivos pois os valores estão estáveis: Hemoglobina: 13.0; Leucócitos: 3.3; Plaquetas 116. Perguntámos se o Jorge poderia ir a um psiquiatra, ele disse que sim, mas que se calhar psicoterapia seria suficiente. Mas explicámos que já está a fazer. O médico disse que em teoria não há nenhum antidepressivo que o Jorge não possa fazer.
Depois explicou-lhe que ele tem uma doença crónica mas com valores muito bons, que há doentes que não vão além de metade dos valores que ele tem. E que tem de aprender a viver com isto porque são valores óptimos para a sua doença mas não podemos ficar tão agarrados a valores hematológicos que oscilam por vários factores. Gostei da segurança do médico ao lidar de modo realista e desdramatizando (eu digo o mesmo ao Jorge mas dentro de mim tenho receios que ele de algum modo apanha – o médico é diferente, até pela confiança que o Jorge tem nele como tal) e também o estar atento aos valores séricos da ciclosporina. De acordo com os mesmos aumentou a ciclosporina para 140 mg/dia. Para mim foi um grande alívio pois já tem 6 meses de tratamento e a palavra desmame nem foi mencionada.
Fomos almoçar ao cais de Gaia. Comi a melhor aletria da minha vida, cremosa. Vou passar a fazer a minha assim. Ou tentar… Mas é muito parecida com a minha só que mais cremosa.
Enviei sms à família e às pessoas do meu coração e que estão sempre presentes nesta saga – vós sabeis quem sóis, minhas queridas amigas e meus queridos amigos.
Já em casa o Jorge foi descansar e ler e eu estive um tempinho com a Belém. É sempre bom estarmos juntas!
Como o Diogo dizia, “Agora é para quase que é quase Natal.”
É isso. O lugar do avião está marcado, agora vamos jantar uma canjinha. As malas estão quase feitas e amanhã vamos a caminho de casa.
Obrigada, meu querido Deus e meu querido Jesus, bem como a Sua Mãe, por nos possibilitarem razões para um óptimo Natal.

domingo, 19 de dezembro de 2010

19 de Dezembro de 2010 – No Porto num Outono gelado




Viemos para o Porto ante ontem dia 17 porque a consulta é na terça-feira, as análises amanhã e todos os voos estavam cheios a não ser mesmo o que viemos.
No início do voo o comandante anunciou que a viagem seria boa pois havia “bom tempo em curso e sem turbulência”. Não sei onde ele foi buscar estas previsões ou se teve de mudar de rota… só sei que uma hora depois de sairmos de Ponta Delgada começou uma turbulência forte que durou até 20 minutos antes de aterrarmos. Crianças vomitavam, as pessoas estavam apreensivas e eu coloquei um Metamidol debaixo da língua, meti a cabeça entre a gola da parka e tentei relaxar no meio dos abanos. Uma destas nunca apanháramos.
Foi-nos informado que no Porto a temperatura era de 8 graus e eu contava com muito frio mas nem senti assim tanto – também me tinha preparado com o pijama por baixo da roupa. O céu estava muito azul, lindo.
Depois de levantarmos o carro, viemos para o Lar. Tinha havido obras e os pedreiros deixaram tudo num estado incrível. Comecei a espirrar e com dor de garganta pois o pó, muito fino, era mesmo muito. Fomos almoçar e comecei a pensar que desta vez iríamos para um Hotel. Depois fomos aos centros comerciais. Nenhum filme que valesse a pena; aproveitámos para umas promoções e umas comprinhas. Fomos dar o nosso passeio pela Foz do Porto e até Gaia. Estava uma noite linda e o rio Douro, belamente calmo. Foi bom mas acompanhada sempre de uma apreensão que me tem acompanhado desde as últimas análises. Sentia-me triste quando me deparei com um anúncio numa paragem de autocarro que diz “A vida é bela; viva o presente”. Foi um recado para mim. Como tenho repetido adoro o Porto. Mas senti perfeitamente que se acontecer o pior dos piores, não serei capaz de voltar aqui. Por muito que quisesse afastar pensamentos menos bons… Depois de um primeiro casamento que acaba por traição do marido, de um segundo casamento marcado pelo alcoolismo e pela violência, vem o Jorge e acontece isto. Que *** de vida esta!
Comprámos jantar e tentámos vir ao Lar. A Belém, com quem entretanto eu já tinha falado ainda estava cá com a D. Olinda. O apartamento estava já todo limpo, se bem que o pó de cimento ou de tinta, o que é, não sei, volta depois mas em menos quantidade, claro. Já limpei mas volta a aparecer.
Ontem o dia continuava bonito, fomos dar umas pequenas voltinhas pelo Porto, comprei umas coisinhas para os meus netinhos e almoçamos no restaurante chinês do centro comercial. Há tanta gente que os parques de estacionamento estão sempre cheios.
Mesmo eu não mostrando minimamente a minha ansiedade, o Jorge tem acordado muito ansioso – já desde os Açores, não é desde que está cá.
Uma coisa que noto aqui no Porto é que não “cheira a Natal”. Quase não há luzes nas casas, só vejo nos centros comerciais. Nunca tinha estado nestas datas fora de casa porque gosto de aproveitar estes dias em casa e acho estranho pois Ponta Delgada é linda com as iluminações de Natal e as pessoas enfeitam as casas.
Entretanto, encomendei à esposa do sr. Henrique do Cagarro uns doces para o Natal. Foi logo no primeiro dia aqui. Porque é assim, ou está tudo bem e eu quero descansar quando chegar a casa ou não está e não terei cabeça para nada.
Hoje acordámos, preparámo-nos para ir almoçar, pensando na canja do Amial que traríamos para o jantar (ontem mandámos buscar pelo “Comer em Casa” mas não acertámos no restaurante, um alentejano – os meus pezinhos de coentrada não tinham coentros…) Como ouvira na televisão que o tempo estaria nublado (estava) e a temperatura subiria, não vesti a calça do pijama. Que horror! Que frio! 9 graus que nunca subiram porque não há sol. Fomos à Churrascaria mas tinha uma fila interminável. Fomos dar um passeio à baixa, aproveitámos para comprar Bolo Rei, voltámos mas continuava a não haver lugares. Então fomos ao Farrapo Velho (fica perto e eu adoro bacalhau), mas o restaurante estava gelado. Foi comer e vir para casa para nos embrulharmos a ver televisão. O Jorge dorme e eu ando aqui nas minhas “quintas”. Já falei com a minha mãe, o Diogo,a Belém e a minha prima Liliana. Não vamos sair mais hoje. A televisão dá uns filmes de fantasia e de Natal. Trouxemos comida para o jantar, há um chazinho dos Açores para fazer e há Bolo Rei e cupcakes. Está-se muito bem aqui.
Acabámos de ver ERAGON na TVI, agora as notícias com a presença do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, que tento não perder e depois A Casa dos Segredos. Pequenas coisas que trazem prazeres, ao lado do Jorge. Só peço estabilidade dele de modo a podermos envelhecer juntos assim, os dois. Só peço saúde para a nossa família. Quero lá saber da crise!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Necessidade de calma – 3 de Dezembro de 2010


Hoje o Jorge foi fazer análises aqui. Mas não quis incomodar a Dra. Maria da Luz, chamando-a e então veio para casa com indicação de que os resultados seriam na terça-feira.
Estou a fazer fisioterapia porque finalmente fui ao médico. A calcificação mantém-se e as dores eram imensas que já nem eu dormia nem deixava o Jorge dormir.
Então, por indicação médica, comecei fisioterapia e reparou-se depois que tenho uma luxação do ombro esquerdo, o que tem a ver com “cicatrizes” literais do meu primeiro casamento. Enfim! Avante.
Estava eu hoje na 12ª sessão de fisioterapia – marquei sempre para as 18 horas para não interferir com o trabalho – quando o Jorge me telefonou. A sua voz parecia aflita. Disse que a Dra. Maria da Luz telefonara a dar o resultados e que havia descidas se eu podia telefonar a ela. Eu nunca vi o Jorge tão aflito. Também fiquei. Telefonei para a sra. Dra. que é sempre uma querida e ela deu os valores: Plaquetas: 113 (=); Leucócitos: 2.9 (desceram); Eritrócitos (“mantêm-se”); Hemoglobina: 12.6 (desceu). Não fiquei aflita. Algo apreensiva, não vou mentir. Mas, trocando impressões com a sra. Dra., o Jorge tem andado mais enervado, ontem doía-lhe um pouco a garganta e isso pode influenciar a série branca. Mas, e qual a explicação para a hemoglobina quando os eritrócitos mantêm os mesmos valores. Ainda estava na sessão de fisioterapia e o Jorge telefonou. Ele estava mesmo aflito e perguntou se eu estava. Eu disse que não. Ele respondeu: “Então se estás calma é porque não há razão para estar aflito.” Aí deu-me literalmente dor de barriga. Ele está a ficar em pânico com isto tudo. E isso não é bom porque se entramos em automático de pânico depois é um sarilho para cortar o ciclo vicioso. O que vale é que também está a fazer psicoterapia.
Ele foi então buscar-me e explicou que se sente muito fragilizado e com receio. Disse-lhe que não havia motivos e que se quisesse fazer como a Dra. Maria da Luz disse, faria análises para a semana. Mas ele diz que agora só faz no Porto. Também me parece bem.
Já em casa, ao jantar, frisei que ele tem de comer 5 peças de fruta por dia (ele tem fugido a comer fruta como deve ser e os vegetais ainda é pior – se não for na sopa, não come. Mas come sopa todos os dias). Aí lembrei-me: Na situação de há 2 anos ele tomava ácido fólico. Agora ainda nunca lhe foi prescrito. Ou seja, a hemoglobina está apenas por conta do seu próprio organismo. Não compreendo porque é que ainda não lhe foi prescrito mas falaremos disso quando formos ao Porto.
Quando expliquei isto ao Jorge ele então ficou mais calmo.
Meu Deus, ver o Jorge que era psicologicamente tão forte estar assim deixa-me mesmo de rastos. Porquê? Porquê ele???
Pergunto se algum dia voltaremos a ter calma, uma vida minimamente calma…