Nós

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quarta-feira, 7 de julho de 2010

4 de Julho de 2010




3h25m
Ainda não fui dormir.
Estou a (re)ver o webseminar com o Dr. Ron Paquette. São seminários online. Ele respondeu a 3 perguntas minhas, pois participei nas vésperas de iniciarmos esta nova saga. Agora ouço ainda com outras representações, outros significados e outras procuras. É importante estar atenta a 2 novos tipos de medicação a que se refere. Também me esclarece sobre o transplante de medula óssea cujos resultados são melhores do que a ideia que eu tinha. E tranquiliza porque se acabar por ser esta a opção, o Jorge tem feito um número mínimo de transfusões de sangue, das duas vezes, o que é importante para o sucesso de um transplante. A 1ª vez fez mais, mas esta apenas uma transfusão de sangue total.
Por outro lado, valores baixos são normais nos primeiros meses e tão baixos, nas primeiras semanas após o ATG. Da outra vez é que ele teve uma resposta espectacular.
13h30m
Levantei-me tardíssimo; deitei-me às 5 horas mas aprendi um pouco mais da faceta que não é “estado de graça” da anemia aplástica. As estatísticas estão lá, mas são estatísticas. Não são pessoas e é com a pessoa do meu marido que me vou importar.
Tinha acordado às 9h e telefonei para saber como estava. Como não atendeu voltei a telefonar às 10. Então ele disse-me que estava mais animado, não estava preocupado com a doença mas na possibilidade de não ter alta amanhã. Disse-me “estou a produzir mas não chega para abastecer o mercado”. Este é o Jorge! Uma lição para mim.
Bebi leite e vim para o hospital. Fui aqui ao centro comercial que fica em frente ao IPO, comprei todas as revistas que considerei que o possam entreter, nomeadamente umas de anedotas. Depois fui ao supermercado mas, se há dois anos tinham muitas coisas individuais, agora as únicas bolachas em pacotes mais pequenos eram Maria. Mesmo assim trouxe. Fico e pensar o quanto está nas pequenas coisas. Como serem pacotes individuais. Quando vamos às compras não costumamos pensar nisto…
Quando cheguei o Jorge estava na casa de banho, roeu uma unha e fez sangue. Ficou um pouco preocupado, mas não sangrou muito e a enfermeira trouxe Betadine. Eu já tinha desinfectado com o spray que há no quarto para desinfectar os cateteres centrais.
Está um dia muito quente e escolhi logo uma blusa de seda… que se me agarra à pele. Mas o quarto é climatizado; aqui está-se bem. Há sempre algo positivo nalguma coisa.
A Verónica subiu primeiro com as revistas que trouxemos; ele disse-lhe: “Para que é isto tudo; é para ler em casa.” Trouxe 2 baralhos de cartas para jogarmos mas ele diz que é para jogarmos em casa. Está com a ideia fixa. O médico fala pouco mas às vezes fala demais.
16h09m
A funcionária da alimentação vem perguntar o que ele quer comer; diz que quer uma sandes de presunto. A sra. responde que era capaz de dar sede. Ele diz que vai com uma cervejinha. Bem, eu fiquei mesmo a olhar. Isto não é o meu marido... Já aprendeu a entrar no “espírito do serviço”. E isso é muito bom.
A Abigail mandou uma mensagem que lhe li. Ela passou por aqui como doente; ela sabe bem. Ficou a pensar e depois diz “Mas quero ir passear de mão dada contigo.” Bem que as enfermeiras dizem que ele é muito mimado. Ora bem, eu mimo quem amo, quem cuido. Já agora, ele tem um creme hidratante de coco. Cheira mesmo muito bem. Dá-me sempre vontade de ir comer um pastel de coco (lá veio conversa de gorda). Mas ele diz que de manhã, depois do banho, quando o coloca, o pessoal vem cheirar o quarto. Dá-me orgulho porque sei bem o que é o inverso quando se trabalha em internamentos.

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